Os hábitos de pagamento mudaram radicalmente nas últimas décadas e, graças à tecnologia, continuam a evoluir. Os mais de 11 milhões de pagamentos diários registados em 2023 são demonstrativos do crescimento da atividade económica no nosso país.
O estado dos pagamentos em Portugal
Nos primeiros dias de maio, o Banco de Portugal publicou o “Relatório dos Sistemas de Pagamento de 2023”. Um documento que mostra, de forma detalhada, os hábitos de pagamento realizados em Portugal no último ano e, sobretudo, a comparação com o anterior, 2022.
Para quem realiza este tipo de operações nas vendas relacionadas com o seu negócio, este texto é um excelente barómetro para projetar os próximos anos da economia portuguesa.
Sumariando, desde já, as principais conclusões, a investigação do Banco de Portugal mostra que os pagamentos feitos em 2023 aumentaram significativamente face a 2022 — quer ao nível das operações de retalho realizadas diariamente, quer nas transações entre instituições de crédito.
O Sistema de Compensação Interbancária (SICOI) ou, por outras palavras, o sistema de pagamentos de retalho nacional, processou 4,2 mil milhões de operações, totalizando uma faturação de 740,2 mil milhões de euros.
Face a 2022, verificamos crescimentos em ambos os níveis: tanto no número de operações como em valor, 13,3% e 12,9% respetivamente. Por dia, foram processados, em média, 11,6 milhões de pagamentos de retalho, perfazendo 2 mil milhões de euros. Em resumo: maior volume de movimentos e de faturação.
Portugueses preferem pagamentos por cartão
Seria possível, de forma empírica, afirmar hoje que os portugueses preferem pagar as suas transações com cartão bancário. Porém, nada o garantiria, apenas uma sensação observada pelos comportamentos do dia a dia.
Agora, com os dados disponibilizados pelo relatório do Banco de Portugal, as conclusões são feitas com base factual e indesmentível, permitindo, até, tomar o pulso da economia nacional.
Segundo o “Relatório dos Sistemas de Pagamento de 2023”, os consumidores fizeram, em média, 10,3 milhões de transações com cartão por dia, com uma faturação de 550,8 milhões de euros. Na verdade, todas as vendas baseadas nesta forma de pagamento foram mais utilizadas que em 2022, com exceção dos Pagamentos ao Estado, que registaram um recuo de 0,1%. Residual, ainda assim.
Os números que o comprovam: as compras online cresceram 15,7% nas operações e 18% no valor. Mais: perto de 90% dos pagamentos foram concluídos com cartão, embora estes tenham representado menos de metade dos gastos.
Compras, transferências e contactless
Quando falamos de pagamentos em cartão, as compras representam a maior parte: 63% no total. Foram, no entanto, as transferências bancárias — que terão a breve trecho novidades — que mais treparam durante o período em análise: 33%. Quanto ao seu peso, foi de 7% de operações com cartão, onde se incluem já as transações com o MB Way.
Mas há mais um dado que 2023 revela e faz história: 53% das compras com cartão foram concluídas sem contacto – contactless. Estes pagamentos, sublinhe-se, registaram um crescimento de 31,1% em quantidade e 32,7% em valor. Antes da pandemia, representavam apenas 8%.
E os cheques, perguntará e com razão que nos lê? Também há dados, pois claro. O relatório do Banco de Portugal refere que os pagamentos por este meio têm recuado cada vez mais: menos 22,3% em número de transações e 5,6% em valor face a 2022. Mensalmente, foram emitidos, em média, 31 cheques por cada mil habitantes.
Pagamentos em Portugal: O que mudou entre 2023 e 2022
Algumas respostas a esta questão foram já respondidas nos parágrafos anteriores. Porém, queremos ir ainda mais longe e remexer todas as décimas e percentagens extraídas do comportamento dos consumidores nos últimos dois anos.
O sistema de pagamentos de retalho nacional notou que, de 2022 para 2023, houve uma evolução positiva de 38% em termos de valor no que toca a transferências imediatas. Uma percentagem que, em termos de número, representa um acréscimo de 33%.
Nas transferências a crédito, observa-se novo crescimento, embora mais ligeiro: 15,7% no que ao valor diz respeito ao montante e 2,9% em quantidade.
Quando falamos nas operações de pagamentos com cartão, o relatório nota um impulso de 12,7% em valor e 14,5% em número.
Os débitos diretos caminham na mesma direção: 8,6% em valor e 7,3% em quantidade. Porém, nos cheques, conforme revelado antes, se dê conta de uma queda, tanto em valor como em número: 5,6% e 22,3% respetivamente.
A mesma tendência de decréscimo é observada nos efeitos comerciais: 15,6% e 16,3%, tanto em valor como na quantidade de operações realizadas.
Fraude em pagamentos com números residuais
Os níveis de fraude na utilização de pagamentos eletrónicos em Portugal permaneceram muito reduzidos. No primeiro semestre de 2023, seis em cada milhão de transferências a crédito, nos débitos diretos a relação foi de dois para um milhão, sendo que nos pagamentos com cartão, 155 em um milhão foram fraudulentas. Neste ponto, registou-se um crescimento: em 2022, haviam sido 137.
As fraudes mais comuns resultaram no uso de mecanismos de engenharia social para obter credenciais de segurança dos utilizadores, permitindo desta forma aos infratores iniciar operações de pagamentos em nome dos verdadeiros titulares.
No total, as perdas chegaram aos 5 milhões de euros nos primeiros seis meses de 2023, uma redução face ao período homólogo, de acordo com o relatório do Banco de Portugal.