A inflação tem sido uma das grandes preocupações dos líderes mundiais. Essa preocupação começou aquando da reabertura da economia graças ao alívio das medidas de restrição impostas para controlo da pandemia. Hoje em dia mantém-se devido à subida dos preços da energia como consequência da guerra na Ucrânia.
Todos sentimos os efeitos da inflação na nossa carteira quando percebemos que, hoje em dia, compramos menos produtos e serviços com o mesmo dinheiro com que comprávamos há alguns anos.
Mas apesar de muitas pessoas saberem que a inflação afeta o seu poder de compra, nem toda a gente está familiarizada com este conceito, sabe como é calculada e o que podemos fazer para protegermos o nosso dinheiro.
O que é a inflação?
Uma economia de mercado é aquela que está sujeita às leis da oferta e da procura, sem intervenção governamental. Isto significa que os preços dos produtos e serviços estão sujeitos a variações, o que faz com que alguns aumentem e outros diminuam.
A inflação representa um aumento generalizado dos preços. Isto significa que não existe inflação quando há um aumento dos preços de um único produto ou serviço como o combustível ou o pão.
O impacto da inflação nas nossas vidas torna-se mais evidente quando percebemos que, com o passar dos anos, precisamos de gastar mais dinheiro do que antes para comprar os mesmos produtos e serviços. Por outras palavras, a inflação faz com que o valor da nossa moeda seja menor ao longo do tempo, reduzindo o nosso poder de compra.
Quando a inflação é extremamente elevada (acima de 50%), os economistas usam o nome “hiperinflação”. Por outro lado, quando a inflação atinge valores negativos, chama-se “deflação”. Nenhuma destas situações é benéfica e o ideal é que os preços sejam estáveis.
Na zona Euro, o Banco Central Europeu (BCE) é um dos principais responsáveis pela manutenção da estabilidade dos preços. No entanto, preços estáveis não significa que não aumentem. Segundo o Conselho do BCE, a estabilidade dos preços é assegurada quando a inflação a médio prazo ronda os 2%.
Como se calcula a inflação?
A inflação é o aumento generalizado dos preços dos produtos e serviços consumidos pelas famílias, ou seja, desde os artigos do dia a dia como produtos alimentares e combustíveis a bens de maior duração como vestuário e material informático e também serviços como cabeleireiros e contratação de seguros.
Todos estes produtos e serviços consumidos ao longo do ano são representados por um “cabaz” de artigos e cada um deles tem um preço que pode variar ao longo do tempo. A taxa de inflação homóloga consiste na percentagem de variação do preço do cabaz completo num determinado mês, quando comparada com o preço desse mesmo cabaz no mesmo mês do ano anterior.
No entanto, é preciso que este cálculo tenha em consideração a importância que cada produto e serviço tem nos orçamentos das famílias. Assim, os produtos em que as famílias gastam mais têm mais peso (ou uma ponderação maior) do que aqueles em que as famílias gastam menos.
Cada família tem os seus hábitos de consumo. Por exemplo, o peso que os preços dos combustíveis têm sobre uma família que possui mais do que um automóvel é diferente daquele que terá sobre uma família que utiliza apenas transportes públicos.
Esta ponderação é determinada em função da média das despesas de consumo de um conjunto de pessoas que, muitas vezes, acaba por ser o conjunto de pessoas que residem num determinado país.
Na zona Euro, a inflação é medida pelo “Índice Harmonizado de Preços no Consumidor” (IHPC) onde o termo “harmonizado” se refere ao facto de todos os países da União Europeia usarem a mesma metodologia para que seja possível fazer a comparação entre os diferentes países.
Os cálculos da inflação de cada país são feitos pelo respetivo instituto nacional de estatística, que depois envia estes dados para o Eurostat, que faz as contas finais de forma a calcular o IHPC da zona Euro. Estes cálculos podem ser feitos diariamente, mas o mais normal é que a inflação seja medida de mês para mês ou de ano para ano.
O que causou a elevada taxa de inflação deste ano?
Em Março de 2022, o IHPC da zona Euro atingiu os 7,8%, o valor mais elevado dos últimos 25 anos, daí este ser um tópico bastante popular e que causa grandes preocupações. Mas há duas principais razões que explicam esta elevada taxa de inflação:
- Rápida reabertura da economia: as restrições associadas à pandemia acabaram por estagnar o crescimento da economia durante os últimos dois anos. Numa economia em constante crescimento, as empresas conseguem aumentar os preços de forma estável e gradual. No entanto, com a reabertura da economia e levantamento das restrições, as pessoas começaram a fazer as compras que adiaram durante os períodos de restrições e confinamento e a gastar o dinheiro que não puderam gastar durante esse mesmo tempo. Isto resultou numa procura demasiado elevada para a oferta que existia, fazendo com que os preços aumentassem.
- Aumento elevado dos preços dos produtos energéticos: como dissemos há pouco, não é apenas o aumento do preço dos combustíveis que faz com que a inflação seja mais elevada. Mas a realidade é que o preço de produtos energéticos como o petróleo, gás e eletricidade tiveram um grande impacto no preço de outros produtos e serviços, já que grande parte dos custos das empresas estão relacionados com produtos energéticos necessários para o transporte e transformação dos mesmos.
Como pode proteger o seu dinheiro da inflação?
Como vimos anteriormente, a inflação faz com que, com o passar do tempo, a sua capacidade de adquirir produtos ou serviços com a mesma quantia de dinheiro seja menor. Isso significa que, se tem 1000€ poupados hoje e parados na sua conta à ordem, eles não conseguirão comprar o mesmo daqui a 5 anos.
Se quiser reduzir o impacto da inflação nas suas poupanças, a melhor solução será pensar em aplicar o seu dinheiro em produtos financeiros.
Comece por ter em conta a duração da aplicação. Ou seja, se o produto financeiro que estiver a avaliar impede que movimente o seu dinheiro durante um ano, é importante que tenha em conta a inflação prevista para os próximos 12 meses e não a atual. É impossível calcular o valor exato, mas esta previsão já o ajudará a identificar a tendência.
Depois, é importante que a remuneração do produto financeiro que escolhe seja igual ou superior aos valores da inflação. Assim, garante que as suas poupanças crescem, pelo menos, ao ritmo da inflação para que não perca dinheiro ao longo do tempo. Ou seja, se a inflação prevista para 2023 é de 1,9%, é importante que encontre um produto financeiro com uma taxa de juro que seja, no mínimo, de 1,9%.
De forma simples, a inflação reflete o aumento generalizado do custo de vida e, consequentemente, a perda do valor da moeda ao longo do tempo.
A elevada taxa de inflação em 2022 começou por ser motivo de conversa derivada da resposta da economia ao alívio das restrições da pandemia mas ganhou uma nova dimensão com a atual guerra na Ucrânia. No entanto, espera-se que a inflação desça ao longo de 2022. Nas previsões para 2023, é possível ver que é expectável que a inflação em Portugal desça dos 4,4% para os 1,9%.
Resta perceber a total extensão dos impactos económicos que a guerra terá sobre a oferta de alguns produtos. Nomeadamente daqueles cuja produção e distribuição de matéria-prima depende da Ucrânia e dos que serão afetados pelas sanções impostas à Rússia.